12 fevereiro, 2009

Vale do Tua e a aldeia de S. Lourenço

Em 1998 o Instituto Geológico e Mineiro, com apresentação do Presidente do seu Conselho Directivo, Eng. Luís Rodrigues da Costa, mandou proceder a uma edição facsimilada do "Aquilégio Medicinal", da autoria de Francisco da Fonseca Henriques, primeiro inventário de águas minerais naturais de Portugal Continental, dado à estampa em 1726 e no qual a propósito das termas de S.Lourenço se pode ler:

"No termo da Vila de Ansiães, Comarca da Torre de Moncorvo, de que dista seis léguas, junto ao lugar de Pombal, freguesia de S.Lourenço, descendo para o rio Tua, por uma serra tão áspera que só a pé se pode andar por ela, nasce uma fonte de água sulfúrea, com calor moderado, despenhando-se pela serra abaixo em grande quantidade.; onde o zelo do padre António de Seixas, Pároco, e natural daquela freguesia mandou fazer um tanque, ainda que humilde, e de pedra tosca; no qual se tomam banhos em todo o tempo do ano; e servem para curar debilidades de nervos , e juntas tolhidas, e dolorosas; estupores, parlesias, vertigens, e outros achaques desta classe, a que se devam aplicar Caldas sulfúreas. São também eficassíssimos em curar sarnas, chagas antigas, e lepra; do que há muitas experiências; o que poderá fazer o enxofre, que no cheiro da água se reconhece; mas por ventura que o seu mineral seja também caparrosa, ou pedra hume, que tem grande virtude para secar chagas, e curar pustulas. Se houvera casa de banhos, e tanque acomodado para se frequentarem, logo pelos efeitos se iria alcançando a qualidade dos minerais, e se viria em claro conhecimento de suas virtudes; e seria um grande bem para todos aqueles povos, que ficam mui distantes de outras Caldas, de que não podem usar facilmente.
Todos os anos há grande concurso de gente a lavar-se, e tomar banho nesta água na noite da véspera, e dia de São Lourenço, pela fé, que com ele têm; e passam de quatrocentas pessoas, que se banham nessa noite, e dia, sempre com banho novo, pela muita cópia de água com que brevissimamente se enche o tanque, e ha experiência de que vindo doentes com lepra, outros tolhidos, e outros com vários achaques, com um só banho, tomado na noite, ou dia do Santo, sararão."


Já no Vale do Rio Tua, com a aldeia de S.Lourenço a vista. A corrente do rio aumenta. O Douro está mais perto ...




A linha férrea continua ... a caminho de Mirandela


A aldeia de S. Lourenço, actualmente com 1 habitante ( a obra prima nunca mais acaba). As casas parecem penduradas nos socalcos naturais da montanha, durante o Inverno a maioria das casas não tem sol durante todo o dia, tal é a inclinação da montanha e a densidade da vegetação.


A obra prima encomendada ao único habitante da aldeia, um chileno perdido nos vales do Douro, vai para 3 anos de trabalho ...


Ok vamos a banhos, o odor confirma que estamos perto ...



Chegamos, a porta está sempre aberta e as regras são muito simples e devem ser seguidas a risca:

Não há recepcionista, nem marcações antecipadas, nem toalhinha da moda, nem cacifo. Os banhos são gratuitos (excepto mês de Agosto das 9:00h ás 17:00h, se a senhora da junta aparecer nesse dia).
Deves deixar o local mais limpo do que o encontras-te.
Se for Inverno e vieres tarde leva uma vela, quando acabares, apaga a vela e deixa-a lá para o próximo que vier.
Se estiver gente a espera o banho não pode demorar mais do que 20 minutos e só são permitidas no máximo 4 pessoas de cada vez...



Eis o tanque ... o aspecto é rude e a foto não o favorece ... mas é nesta tina granítica escavada na fraga que se tomam os banhos, a água chega aqui directamente da nascente a uma temperatura morna e o cheiro a enxofre é muito intenso ...